sexta-feira, 27 de junho de 2008

A única culpada sou seu...

O poeta não tem fim... O amor, sim

Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos
(que são doces)
Porque nada te poderei dar senão
A mágoa de me veres
(eternamente exausto)
No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe
O teu gesto
E em minha voz
(a tua voz).
Não te quero ter
Porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como uma nódoa do passado.
Eu deixarei...
Tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros
E tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás
Que quem te colheu fui eu,
(porque eu fui o grande íntimo da noite)
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram
Os dedos da névoa suspensos
(no espaço)
E eu trouxe até mim
A misteriosa essência do teu abandono
(desordenado).
Eu ficarei só como os veleiros
Nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações
Do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Será a tua voz presente,
A tua voz ausente,
A tua voz serenizada.

Vinicius de Moraes

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