sexta-feira, 4 de julho de 2008

Aposento ensolarado

Deste que você foi embora, meu Mestre, tudo ficou tão gelado e sombrio. Parece até que a nevoa de Campos de Jordão invadiu a Alta Sorocabana e que os tempos de calor não passarão mais por aqui.

Passo em frente da morada da tua carne, que se esvai conforme o tempo natural da morte e penso como seria mágico se pudéssemos conversar novamente. Mas como isso seria possível, se já não se encontra entre nós? Sinto falta das conversas na varanda de casa, das discussões de pauta sobre o nosso jornal. Até das brigas sobre suas idéias hilariantes relacionadas a fazer uma imprensa marrom. Quem importaria?

As línguas felinas declamam por ai que busco um pai, não um homem, mas saiba que sempre será insubstituível em minha vida. No fundo acho que todos deveriam saber que não busco nada em relação a minha vida pessoal. Não aprecio a solitude que se instalou em minha jornada momentânea, mas ando até sorrindo comigo mesma. Tenho o mais importante - a excitação no que faço - o meu trabalho, me consome e me abstrai, tempo suficiente para não pensar em namoricos fúteis e banais.

Tentei me relacionar com alguém, foi um desastre total, tenho certeza que não nasci para relacionamentos, mesmo sendo romancista, poeta e sentimentalmente aguçada para relações amorosas, não tenho tido muito sucesso neste setor. Prefiro esquecer... Esquecer que as pessoas podem se apaixonar e viver mutuamente entre si.

Ultimamente meus tempos livres estão voltados para a minha arte, pelos meus ensaios literários. Preciso concluir minha missão neste universo absurdo, do qual ainda faço parte, e ter alguém atrapalharia todo processo. Além do que costumo fazer as pessoas sofrerem...

Sei o quanto é triste para uma poeta admitir sua incapacidade de amar, de compartilhar e interagir com o mundo lá fora, mas meus pensamentos me confortam, me aquecem e me dão forças para seguir em frente, mesmo sem uma família, sem filhos e sem um amor de verdade. Usufruo de toda a minha arte e faço isso com classe de aprendiz, pois é a única forma que encontrei de ser feliz – Trancada em mim mesma!

Vanessa Cavalcante

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